Bailarina que teve a perna amputada cria método para continuar a lecionar







Do canto da sala rodeada de espelhos, os olhos claros da professora não se desviam das sapatilhas que rodopiam pelo chão. Bailarina desde os 4 anos, Ana Maria Olive, hoje com 69, se recorda do tempo em que seus pés executavam belos passos sobre os palcos do Rio e de Niterói. Entretanto, há três anos, Ana teve que aprender a ensinar os delicados movimentos de dança sentada.

Devido a complicações causadas pelo entupimento de uma veia, a dançarina precisou amputar a perna esquerda acima do joelho e ainda assim, contra todas as recomendações médicas, continuou a exercer sua paixão: dar aulas de balé.

A única coisa da qual Ana precisou abrir mão foi dar aula para crianças. "Não tem como eu ficar correndo atrás delas", explicou, ressaltando que, apesar disso, não perde a chance de ensinar a arte às novas bailarinas que surgem nas turmas de adultos.

Aluna da academia desde 2008, a arquiteta Camila Quevedo, 26, esteve presente durante o processo de superação vivido pela professora Ana Maria. Embora considere relevante a diferença de ter a professora sentada, Camila ressalta os benefícios do método utilizado pela bailarina. "Como são turmas de adultas, uma palavra já faz você saber qual é o movimento", declarou.

As qualidades da mestra também são ressaltadas. "Precisava de alguém com paciência para todas as besteiras que eu pudesse vir a fazer. O afeto que a gente cria com a Ana, dá vontade de ficar aqui para sempre", elogiou a arquiteta.

Após frequentar a escola de Ana entre 2010 e 2011, a aluna Bruna Cezário, de 21 anos, retornou três anos depois da cirurgia da professora. Mas garante que a qualidade da aula é a mesma. "Aqui não tem essa ditadura de você ser iniciante ou avançada, e isso ajuda muito. Você pode estar começando e dançar com gente experiente, que pode ensinar", comentou a bailarina. Embora tenha frequentado outras academias durante seus sete anos de balé, Bruna afirma dever à Ana sua destreza sobre as sapatilhas de ponta.

Um jeito todo especial de ensinar

A professora teve que adaptar o método de ensino. Sentada em um banquinho no canto da sala de aula, Ana Maria descreve os movimentos a serem executados, sem esquecer da nomenclatura em francês. "Nunca ensino um passo sem dar o nome e explicar o porquê. É importante para que as alunas memorizem", explicou.

"Tento mostrar com a outra perna ou com os braços. Não é a mesma coisa, mas acaba dando certo", avaliou. A única coisa da qual Ana precisou abrir mão definitivamente foi de dar aula para crianças. "Não tem como eu ficar correndo atrás delas. Além disso, como eu vou dizer para esticar o pé se não posso dar o exemplo?"

Sapatilhas com muita história

A ideia de abandonar as sapatilhas fez com que a bailarina chorasse "umas duas noites seguidas". "Eu acordava com uma dor de cabeça danada de tanto chorar e resolvi parar. Aí fiz fisioterapia e voltei a dar aulas. Os médicos não acreditaram", afirmou.

"Tenho dívida de gratidão eterna. Ela tem uma paciência que transcende. Tudo o que sei devo à Ana", diz o bailarino Valdemir Corrêa, de 48 anos, que foi aluno de Ana Maria e hoje leciona na Companhia de Balé de Niterói.

Ana começou a dançar em Niterói, onde chegou a fazer parte do primeiro corpo de baile do Teatro Municipal da cidade. Aos 30 anos, viajou para Nova York. De volta ao Brasil, estudou com bailarinos da Real Academia de Londres. Em pouco tempo abriu sua academia em Icaraí: "Nunca parei de dar aula porque eu sobrevivo com meu trabalho."

Retirei daqui


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