Fisioterapeutas de todo o país ameaçam um boicote nacional contra as operadoras de planos de saúde. Os profissionais do setor reclamam da ameaça de "extinção" da categoria por causa de mais de 15 anos sem reajustes no valor que recebem. Hoje, os convênios pagam aos fisioterapeutas R$ 5 para cada atendimento.
Entidades nacionais e regionais da categoria se reúnem hoje, em Curitiba, com representantes da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para discutir a criação de uma tabela específica de remuneração. Atualmente, as operadoras usam como base de cálculo uma tabela médica que, segundo a Associação Paranaense de Prestadores de Serviços em Fisioterapia (APFisio), apresenta defasagem de 550% no valor dos repasses. Para chegar a essa diferença, a associação usou os reajustes do salário mínimo no período, que passou de R$ 70 em 1994 para os atuais R$ 465.
De acordo com a APFisio, 90% dos atendimentos fisioterápicos no país são realizados através dos convênios, 8% correspondem a consultas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e apenas 2% são atendimentos particulares.
Menos que o SUS
A entidade argumenta que o valor bruto recebido por atendimento via plano de saúde é menor até do que os R$ 7 pagos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para remunerar os profissionais. "Todas as categorias têm uma tabela própria com o rol de procedimentos. Mas, no caso dos fisioterapeutas, os planos não aceitam seguir esse modelo. Há cinco anos o Conselho Federal de Fisioterapia (Crefito) tenta fazer com que os planos acatem a tabela para remuneração dos profissionais", afirma a presidente da APFisio, Marlene Izidro Vieira. Na tabela referencial de honorários estabelecida pelo Crefito, o valor pago por consulta deve variar entre R$ 12 e R$ 30, de acordo com a complexidade do atendimento.
Caso a demanda dos profissionais não seja atendida, Marlene diz que os fisioterapeutas de todo o país vão promover um boicote aos planos de saúde. "Não paramos até hoje porque sabemos que o trabalho do fisioterapeuta é muito importante para a reabilitação dos pacientes. Mas a situação chegou a um limite, e não temos mais escolhas", garante.
O fisioterapeuta Newton Moraes conta que a situação tem obrigado os profissionais a atenderem entre 6 e 10 pacientes no mesmo horário para que seja possível cobrir os custos de manutenção das clínicas. Há 15 anos, segundo ele, os atendimentos eram individualizados ou compreendiam no máximo dois pacientes simultaneamente. "A situação atual precariza o atendimento. Com tantos pacientes fica difícil dar atenção a todos e acompanhar o tratamento com precisão", explica.
Segundo um fisioterapeuta que preferiu não se identificar, por uma questão de sobrevivência financeira, as clínicas se veem obrigadas a manter o paciente em tratamento pelo maior número de sessões possível. Com isso, casos que poderiam ser resolvidos em 20 sessões acabam durando até 80 sessões para garantir o faturamento das clínicas. "O sistema atual premia o mau atendimento", denuncia.
Competência
A ANS afirma que não tem competência legal para fixar o valor que o profissional de fisioterapia deve receber. Mesmo assim, a agência se dispôs a ouvir as reivindicações da categoria e intermediar o debate com as operadoras.
Procurada, a Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), representante das operadoras de planos de saúde, não quis comentar o assunto.
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