"Eu tinha uns 22 anos e pesava 110 kg. Meu joelho amanheceu inchado. Estava acabando com a articulação. A cartilagem não aguentava meu peso e estava muito pressionada. Fui a um ortopedista que me orientou a fazer regime'', conta o estudante Michel Ribeiro, que sentia fortes dores nos meniscos, cartilagens localizadas entre os maiores ossos do corpo humano - a tíbia e o fêmur.
Levar uma vida sedentária fez com que Michel tivesse problemas no menisco, o que segundo o médico especialista em ortopedia, Dr. João Batista, é a causa das maiores ocorrências de lesões na cartilagem do joelho. "O sobrepeso é o inimigo número um. Fazer uma atividade física regularmente é o mais indicado'', orienta. "Ao andar, correr e agachar, os meniscos atuam ativamente como amortecedores nos movimentos. Eles suavizam o peso do corpo sobre os joelhos'', explica.
Acreditando na ciência a favor da vida, o professor da área de química do IFPA, Doutor Célio Hitoshy Wataya, dedicou cerca de quatro anos em pesquisas para desenvolver um menisco artificial que preservasse as propriedades do menisco original, mesmo com o contínuo uso. O menisco é obtido através da técnica de prototipagem rápida. A técnica envolve a fabricação de próteses do menisco a partir da imagem computacional do joelho, gerado por sistemas auxiliadores do computador (CAD). Para a construção da prótese, o trabalho é semelhante ao de uma impressora, só que ao invés de usar tinta, usam-se metais, polímeros e outras substâncias.
O diferencial do trabalho de Célio Wataya está no hidrogel, polímero que absorve líquidos sem se dissolver. De acordo com Célio, o composto químico foi testado em animais e não apresentou rejeição. "Testes em células de bovinos e em ratos foram realizados. No primeiro caso não houve mortes relevantes das células, e no segundo teste não houve rejeição, irritação, nem hemorragias no local próximo do material implantado. Concluindo que o material pode ser implantado em humanos com grande chance de ser aceito sem rejeição'', explica.
Michel acabou com as dores que sentia tomando anti-inflamatórios e fazendo exercícios físicos, porém há casos que o menisco quando lesionado dificilmente se regenera, por ser pobre em vasos sanguíneos. O ortopedista afirma que jovens, idosos, pessoas sedentários e até quem pratica esporte não está isento de sofrer alguma lesão no menisco. Foi o caso do administrador Davi Junior, que ao jogar futebol rompeu o ligamento lateral. "Eu estava jogando bola quando meu joelho começou a doer. Fui ao médico e ele me disse que por milímetros não tive que fazer cirurgia para retirá-lo totalmente''.
Davi conta que mesmo após nove anos em tratamento, ainda sente dores. "Semana passada cheguei a sentir dores, mas estou me tratando com fisioterapia e musculação'', diz. Por um período de tempo, o administrador não pôde subir escadas e nem dirigir por causa da recuperação das cartilagens.
Agora, com a criação do menisco artificial, as pessoas não precisarão ter as rotinas alteradas, sentir desconforto nos joelhos, ou se preocupar com o desgaste das próteses devido o uso. "Quando se submetem a cirurgias do menisco, normalmente se retiram as partes das regiões próximas às lesões, porém, com o passar do tempo essas lesões voltam a se propagar ao longo do menisco, e assim o final é a retirada total dele. No caso do menisco de hidrogel, ao substituir o menisco natural, o paciente deverá apenas esperar a cicatrização da cirurgia, pois o menisco em si já estará pronto para o uso", diz Célio.
O material usado na prótese é o polivinil álcool (PVA), e está presente nos cosméticos, roupas de queimados, produtos farmacêuticos, lentes de contato.
"A composição química chama-se PVA, um polímero produzido em maior escala no mundo todo, entre outras utilidades estão na produção de cola, manta para queimados, tintas, entre outros. Por ser de fácil obtenção, o custo é realmente muito baixo. Um dos fatores que me chamou a atenção. As propriedades mecânicas de compressão, elasticidade, endentação, e tração são relativamente favoráveis à produção dos meniscos'', diz Célio.
O menisco artificial foi desenvolvido durante uma pesquisa de doutorado na Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da UNICAMP, quando uma professora da Universidade apresentou a Célio o material chamado polivinil álcool (PVA), que poderia ser usado em cartilagens humanas. "Tomei essa ideia e pensei em qual parte do corpo humano poderia ser utilizado. No nariz ou orelha? Foi quando tive a ideia de produzir um menisco artificial, pois sendo desportista sempre tive problemas no joelho e então imaginei a possibilidade de unir o útil ao agradável'', conta.
Professor Célio Wataya deseja que a criação possa ajudar as pessoas. "Não tenho planos de patentear a descoberta. Havendo empresas interessadas que desenvolvam e cheguem aos hospitais públicos, já seria de grande ajuda a muitas pessoas'', diz.
(Diário do Pará)
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